Sobre olhos e armadilhas
É
que acabou, né? Vai, diz pra mim que acabou só pra eu confirmar, só pra eu me
convencer de que acabou e acabou mesmo. É que nos últimos dias eu tenho
repetido pra mim que já era, entre um gole de café e outro, eu tenho repetido
entre uma lembrança e outra que já deu e que eu preciso te esquecer.
Nem
vale esse sofrimento todo, certo? Vai passar, vai passar. Tô aqui tentando me
convencer de que esse seu sorriso nem é tão lindo assim e que esse par de
olhões eu posso encontrar em qualquer esquina, mas eu já andei em tanta esquina
e nada de olhões em forma de armadilha me pegarem.
A
noite é mais triste sem você, a mesa do bar fica incompleta sem sua cerveja
nela, e minha mão fica incompleta sem a sua pra segurar por cima da mesa. É que
não dá pra rir numa roda de amigos sem ouvir a sua risada, fica feio como um
coral desafinado. É que não dá pra rir sem ver suas covinhas, o defeito
genético mais lindo do mundo. Mas eu rio, fingindo que tá tudo bem e engraçado,
enquanto por dentro eu choro, achando tudo sem graça e cinza.
Eu
queria poder te matar dentro de mim, mas pra te matar eu tenho que matar as
diversas versões que você criou de mim. Eu tenho que matar meu riso preguiçoso
e sossegado ao ver a luz do sol bater na cortina do teu quarto depois de ter
passado a noite toda em teus braços. Eu tenho que matar minha voz de menina
mimada perguntando entre um beijo e outro “por que você não fica comigo? ”. Eu
tenho que matar a minha ingenuidade em acreditar que esse amor era só meu e era
o mais bonito de todo o universo. Tenho que matar meus arrepios quando você
beijava meu pescoço. Matar minha safadeza de chupar seus dedos em lugares
movimentados e depois te intimar a me levar pra um lugar mais calmo e continuar
o que eu comecei.
As
versões que eu criei pra te amar melhor, pra te amar gostoso, pra te amar demais.
É que eu não sei gostar pouco, e gostar muito de ti foi tão bom, até que não
foi o suficiente porque tu não gostava de mim do mesmo jeito, e eu tive que
calar minhas preces de “fica mais um pouco” querendo dizer “fica pra sempre”, e
mandei você ir. E agora acabou, né? Vai,
diz pra mim que acabou só pra eu confirmar, só pra eu me convencer de que
acabou e acabou mesmo.
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1 comentários:
Esse é a minha cara, tenho manias de acreditar que tudo é pra sempre e acabo me esquecendo que o pra sempre, sempre acaba, mas um belo texto para a minha coleção de textos incríveis, obrigado por ser esse belo escritor.
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