quarta-feira, 15 de março de 2017

O que me remói?


O que será que me remoí neste exato momento? O que dói em mim? O que me machuca? Talvez uma tristeza camuflada, uma alegria demasiada falsa, um torpor gélido-quente que fosforesce e transcende minha existência. Uma coisa tão abstrata que suprime por completo a coisa substantivo e fica a vagar no vazio. Só sinto que dói. Uma gota viva e vermelha rompe meu vazio escuro. Rasga a tessitura da carne musculosa e instala o ardor. Não quero sentir. Não sou obrigado a sentir. Clamo pelo gélido e transparente vapor da coisa salvadora. Ele não vem. Viver talvez não seja tão simples assim. Viver talvez seja como apalpar brasas em lava e aguentar a dor. Aguentar seja, talvez, a maior virtude dos homens. Toco a epiderme gélida que ferve por dentro e quero desagregar alma e corpo. Meu reflexo no líquido salgado acumulado em meus braços não me reflete mais.  O que sou eu, uma coisa do mundo ou um mundo de coisas? Já quero sentir, transmitir e descobrir, mas é tão inebriante que morro quente para renascer gélido.