quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Enxágua, seca e passa?


Estou sentado, bem sentado de pernas cruzadas. Ouvindo apenas os ruídos do “comigo mesmo”. Fortes, diga-se de passagem. Com o indicador pressionando a têmpora e os neurônios a fervilhar penso na vida como uma lavanderia. Sem Vanish? Sem Vanish! Nessa lavanderia nada apaga manchas. Se você apresenta alguma mácula colorida, vire-se. O máximo que você pode fazer é mergulhar em águas cristalinamente turvas por demasiadas vezes e conseguir um leve clareamento.
Louco? Nem tanto! Normal para quem me conhece pessoalmente. Prosseguindo com o pensamento altamente possível, somos roupas. De grife, da feira, colorida, monocromática, inteira, rasgada, nova, velha, enfim, ROUPAS. Resíduos Obscuros de um Universo Pouco Amigável e Segregador.  Passamos o dia em cabides ou simplesmente jogados em espaços pouco confortáveis. Um puxa daqui, outro dali; um amassa aqui, outro alisa ali; um rasga aqui, outro costura ali e vamos sobrevivendo.
Guarda-roupas? Quem disse que todas as roupas têm acesso? Muitas são jogadas, descartadas como lixo no ambiente (mas um lixo que será usado novamente, no dia seguinte). Caladas e obedientes moldam-se ao formato que lhe incubem. Triste. Triste. Muito triste pensar na vida das roupas, na subserviência e submissão. Que seres detestáveis.
Roupa é um ser? Somos um ser? Eu não sei mais de nada. Divaguei e me perdi. De acordo com “comigo mesmo”, roupa é um ser (metaforicamente), pois estou comparando-a com a gente. Mas, na verdade, acho que roupa é ser tanto quanto somos seres. Dois amontoados moleculares subservientes.
Já me alonguei demais falando das roupas. O foco aqui não são elas. Vim falar da lavanderia chamada vida. Por que falei tanto das roupas? Foi necessário? Se foi ou não foi, cabe a você decidir porque não vou mais apagar o que já digitei. Vai ficar assim e pronto!
Só sei que a vida é uma lavanderia e somos roupas sujas. Vivemos na lavanderia tentando nos limpar até não conseguir, rasgar e desaparecer para sempre. Todos são jogados em grandes máquinas, mergulhados em água e rotacionados. Com manchas ou sem manchas são lavados, enxaguados, secados e passados. Mas será que passa mesmo? Só isso é o suficiente? O que é suficiente para viver? Viver é preenchível, palpável e acabado? Nada passa. Viver não passa. Manchar não passa. Rasgar não passa. A vida não passa. A vida te enxágua, seca, passa e te vomita iludindo-te. Na verdade, nada passou e você está superficialmente liso. Por dentro continua o mesmo e não vai ser na lavanderia que vai conseguir mudar. Recorra ao quer for possível!