quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Lembranças



Escute enquanto lê:


Lembra de quando corríamos juntos de porta em porta? De quando assustávamos os vizinhos mais velhos? De quando nos escondíamos em nossa casinha da árvore? De quando você me olhava com um sorrisinho no canto da boca, apertava minha bochecha e eu retribuía acariciando seu cabelo vivamente brilhoso? Éramos duas crianças ímpares. Dois “pestinhas” como muitos diziam. Duas almas que se completavam. Doce e salgado. Frio e calor. Razão e emoção. Alegria e tristeza. Choro e sorriso.
Lembra do dia que doamos nossos brinquedos – o que sobrou deles?  Como crescemos do dia para a noite!
Lembra da minha primeira carteira? De seu primeiro salto? De quando você quase caiu na calçada tentando se equilibrar nele? Da penugem que era minha primeira barba? Da primeira vez que saímos sozinhos? De nossa primeira noitada? De nosso primeiro beijo, nosso primeiro “eu te amo”, nosso namoro? De nossa primeira vez? De nossas juras? De nosso noivado? Que dia incrível! O começo da materialização de um sentimento tão puro.
Lembra do dia mais importante de nossas vidas? De como eu estava nervoso e como você estava linda? De como eu segurava as lágrimas? De como você sorria e soltava as lágrimas? De nosso sonoro sim?
Lembra de nossa casa? De como você organizou tudo do seu jeitinho? De todo o trabalho que tive? Do sofá aconchegante no qual assistimos a diversos filmes? De nossas conquistas, nosso trabalho, nossas contas, nossa vida de adulto?
Lembra daquela tarde? Da notícia? De como eu era o homem mais feliz do mundo? De como eu mimei você durante os nove meses? De como foi lindo o nascimento dela? De como passamos noites acordados?
Lembra de como envelhecemos? De como nos preocupamos com o trabalho? De como pouco nos falávamos? De como nos cansamos de tudo? De como a rotina estava um inferno?
Lembra de nossa primeira briga? De como você chorou? Eu chorei escondido. Chorei muito. De como depois da primeira outras vieram e multiplicaram-se? Como esquecer, não é?
Lembra da mala, do último olhar, da buzina? Eu estava saindo. Foi difícil, mas foi o melhor.
Lembra? Você ainda lembra? Você ainda lembra de mim? Lembra de nós?

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4 comentários:

Patricia disse...

Que texto lindo!! No início o sorriso foi nascendo e aumentando à medida que a leitura prosseguia... E, ao final, ele se findou, se transformando em olhos marejados.. Ainda mais lendo embalada por essa música tão tocante.. Muito lindo!!

Tem sorteio lá no blog, se quiser participar *-*
http://metamorfoseliteraria.blogspot.com/

Dalvan Linhares disse...

Muito obrigado, Patricia, pelo lindo comentário! Sem palavras para agradecer.
Beijos!

Unknown disse...

Como não se emocionar lendo esse texto, esses seus textos me fazem tão bem e essa música me faz chorar, que lindo texto, que linda história, talvez viver com o amor da sua vida seja a melhor coisa do mundo, conviver todos os dias com a mesma pessoa quem nunca sonhou, obrigado por mais essa linda história.

Dalvan Linhares disse...

Que lindo comentário, Edimara Freire. Muito obrigado pelas palavras.

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