quarta-feira, 20 de julho de 2016

A senha do wi-fi

Era sábado, a noite estava começando. Tomei banho rapidamente e vesti-me para ir à rodoviária esperar meu tio. Peguei a primeira roupa que vi, coloquei o celular no bolso – instrumento indispensável na vida moderna – e fui. Acompanhavam-me minha madrinha e minha prima.
O ônibus estava previsto para chegar às 06h00min, mas sabíamos que atrasaria. Ele sempre atrasa! Um passageiro demora muito para comer, outro guloso come demasiado muito e perde a noção do tempo no banheiro tentando deixar parte do estoque por lá, um jovem viciado em redes sociais não quer mais sair do wi-fi, a menina paparazzo não para de fotografar tudo e todos... Tudo isso contribui para que o ônibus atrase e a gente fique por um longo e entediante tempo na rodoviária.
Nada do ônibus chegar! O jeito foi ficarmos ali sentados esperando ele chegar. Nada para fazer. Um olhava para a cara do outro. O único entretenimento que apareceu foi um pastor. Conversou sobre como anda a família atualmente, sobre pregações e outros assuntos de pastor.
Estava ali embrulhado pelo tédio e movido pela preguiça, quando tive uma ideia. Já que eu estava com meu companheiro inseparável – que parece até uma parte de mim – resolvi utilizá-lo.
Muito animado e esperançoso, liguei o wi-fi. Ativando... Pesquisando... Obtendo endereço IP... E nada! Nenhuma rede aberta! Nesse momento a tristeza bateu. Parecia que um ente querido tinha me abandonado. Foi nesse momento que percebi o quanto somos dominados pela tecnologia. O quanto somos viciados e dependentes. Não chega a ser uma droga, mas para alguns funciona como uma – não é o meu caso, tá leitor?!
Continuando... Observei que tinha me deparado só com redes privadas. Disse para mim mesmo: é o jeito tentar a sorte. E comecei a imaginar as possíveis senhas.
Comecei com a boa e velha “1234”. Não deu certo! Parti para a próxima: o nome do estabelecimento mais 123. Também não funcionou! Primeira letra do nome do dono mais 123. Senha incorreta. O nome do dono. Mais uma tentativa frustrada! Fui tentando, tentando, tentando... e para a minha surpresa, tinha errado a senha novamente!
Continuei com essa luta. Imaginava e digitava, imaginava e digitava... Meus dedos, como de costume, roboticamente digitava tudo o que a minha maravilhosa mente pensava.
Dei seguimento a isso até ser interrompido pela minha madrinha:
– Dalvan, você não vai para casa hoje? Seu tio já chegou há cinco minutos. O ônibus até já saiu.     
Fiquei muito surpreso. Como tudo isso aconteceu na minha cara e eu não percebi? A única resposta cabível é que a tecnologia nos cega e as senhas do wi-fi nos distraem.

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2 comentários:

Unknown disse...

Rsrsrsrs muito bom esse texto, quem nunca se distraiu com os Wi-fi da vida, obrigado por mais essa excelente história.

Dalvan Linhares disse...

Edimara Freire, muito obrigado!

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