quarta-feira, 15 de março de 2017

O que me remói?


O que será que me remoí neste exato momento? O que dói em mim? O que me machuca? Talvez uma tristeza camuflada, uma alegria demasiada falsa, um torpor gélido-quente que fosforesce e transcende minha existência. Uma coisa tão abstrata que suprime por completo a coisa substantivo e fica a vagar no vazio. Só sinto que dói. Uma gota viva e vermelha rompe meu vazio escuro. Rasga a tessitura da carne musculosa e instala o ardor. Não quero sentir. Não sou obrigado a sentir. Clamo pelo gélido e transparente vapor da coisa salvadora. Ele não vem. Viver talvez não seja tão simples assim. Viver talvez seja como apalpar brasas em lava e aguentar a dor. Aguentar seja, talvez, a maior virtude dos homens. Toco a epiderme gélida que ferve por dentro e quero desagregar alma e corpo. Meu reflexo no líquido salgado acumulado em meus braços não me reflete mais.  O que sou eu, uma coisa do mundo ou um mundo de coisas? Já quero sentir, transmitir e descobrir, mas é tão inebriante que morro quente para renascer gélido.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Morrer é a melhor saída?


Passei horas pensando seriamente se trataria desse tema aqui. Decido isso, passei horas pensando no que escrever, quais palavras escolher. Suicídio é um tema delicado, convenhamos. Todavia, não pode ser tratado como tabu nem ser excluído das rodas de conversas e da rotina diária.
Por dia, milhares de pessoas tiram suas próprias vidas, cortam as próprias asas, caminham mais rápido que o destino e cortam a linha da vida precipitadamente, inconsequentemente. O que as levam a isso? Eu não vou mentir e dizer que sei, pois cada ser humano é uma máquina singular detentora de peças únicas e com um funcionamento próprio, portanto, sou impossibilitado de saber o que fere cada um, o que torna viver desinteressante. Contudo, infiro que na vida dessas pessoas falta algo. Uma saudação, um olhar, um sorriso, um carinho, um diálogo, uma atenção, um afago? Pode ser. Sempre os maiores êxitos são conseguidos através das pequenas coisas. Por isso, rogo para que aprendamos a olhar o que nos rodeia por completo, aprendamos a falar com as pessoas, procurar ajudar, demonstrar, nem que minimamente, que nos importamos com alguém.
Se, você leitor, está passando por um momento difícil agora e desacredita da vida, senta, respira profundamente e ouve teu coração bater. Você é uma máquina única e é também seu próprio mecânico. Conserta as peças. Troca o óleo. Vê a natureza que o rodeia, sente a luz que preenche o espaço o qual seu corpo ocupa. Aprende que o mundo é uma concessionária e cada um de nós é um modelo único que precisa existir para tudo fazer sentido. O fio da vida já é curto por si só, não precisa que você mesmo o corte.  A vida é curta e cabe a você aproveitá-la ao máximo. A morte nunca foi nem nunca será a solução para os problemas de ninguém.
Se você ainda continua triste e quer parar de viver porque não tem com quem desabafar, saiba que eu estou aqui. Manda uma mensagem para mim que eu te ajudarei. Não estou brincando! Assim como preciso de você, você pode precisar de mim. E estou aqui disposto a te ajudar sempre. Confia em mim. Espera somente chegar ao final do texto e, depois, corre e escreve uma mensagem para mim. Eu vou te atender.
Enfim, já ouvi muitos dizerem que fulano suicidou-se porque não aguentava mais viver. Como assim? Ninguém pode não aguentar mais viver. Lembre-se que as plantas passam anos, não só um, vários, a espera de chuva. Elas pensam em abandonar o mundo, beiram a morte, viver torna-se insuportável, mas não desanimam, esperam as gotas fluidas da água cristalina as tocarem para renovarem-se, erguerem-se vivamente verdes, sábias e fortes. Para muitos seres humanos isso representaria o fim, o “não aguento mais”, a escuridão. Entretanto, espelhemo-nos nelas. Sejamos árvores. Sejamos flores. Sejamos girassóis. Busquemos apenas a luz. Esqueçamo-nos das trevas. Voltemo-nos sempre para a energia vivificadora da luz. Vivamos sempre, acima de tudo e de todas as coisas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Para você


A vida é feita de fases. As pessoas são feitas de fases. Eu aceito sua fase atual. Quero te ver feliz. Só isso me importa. Quero que você aprenda o quanto é bom voar sem precisar de ninguém. Voar sem pressa para voltar porque deixou alguém te esperando. Voar sem medo de ser feliz. Voar para os destinos mais risíveis. Voar para o nada. Simplesmente voar. Tomar conta de seus atos. Amadurecer. Curtir-se. Amar-se. Doar-se a si mesma. Aprontar-se para, quem sabe, convidar alguém para voar com você. Espero que voe bastante, experimente demasiadamente e perceba o que realmente te fascina, o que realmente te faz bem, o que merece ser lembrado durante seus voos. Que você viaje, se entregue ao ar por inteira, sinta sua vida sendo bagunçada e, com toda a sabedoria adquirida, arrume-a. Que eu também voe bastante e que nos encontremos em alguma corrente de ar quente e intensa para voarmos juntos. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Sobre o silêncio


Nenhum barulho. Nada em volta. Talvez eu esteja diante do maior e mais completo caos. O silêncio nada mais é que o caos, o todo, o eu complexo encapsulado em algo aparentemente silencioso. O silêncio é o mundo. Vivo? Sim! Vivo! Visceralmente vivo. Carnalmente perturbador. Dentro do silêncio tudo cabe. A vida, o eu. Silencio. Renuncio. Grito e quero tudo. Neste momento clamo por barulho. Rejeito o silêncio. Rejeito a vida. Rejeito o eu. Rejeito o tudo. Apego-me ao nada. Quero sons. Quero barulho. Quero uma orquestra. Quero viver cegamente embalado pela mais bela e alegre sinfonia. Dorme silêncio. Um dia eu te visito. Não quero refletir sobre você. Você é tudo, é muito completo. Ninguém nunca realmente te decifrou e nem vai te decifrar. Dorme. Dorme. Deixa-me gritar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Sobre renovação


Sentado na areia da praia infinita, observando o vaivém da maré, paro para me preparar para a renovação. Renovar? Renascer? Sim! Mudar, permanecer, consertar, você decide. Mais trezentos e sessenta e cinco dias vêm por aí. Você tem a chance de fazer tudo o que não fez nesses trezentos e tantos dias que já se passaram. Parece balela, não é? Um discurso um pouco, bastante, repetido, não? Mas pare e pense. O ano novo é e nunca vai deixar de ser a filosofia de mais trezentos e tantos dias novos, em branco, esperando ser coloridos. Então, muna-se de cores e corra. O quadro da vida urge por cor, por forma. Não pare, não espere. Corra! Pinte o sete, o oito, os trezentos e sessenta e cinco novos números. Qual a cor? Você decide. Você decide o tom, a intensidade, a forma do traçado. O seu traço. Único. Responsável por singularizar momentos e colorir o novo ano. Monte sua arte, faça-a valer trilhões, mas a faça tornar-se tão importante e colossal que nenhum valor seja capaz de comprá-la. Feliz 2017!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Um natal não tão feliz


A cidade. Papelão. Sonhos. Sujeira. Desejo. Frio. Persistência. Rua. Fé. Fome. Esperança. Ânsia. O menino. A mãe. O cachorro. Tubarão.
Uma vida difícil. Véspera de natal. Falta comida. Barriga vazia. A mãe com fome há cinco dias. O menino alimentado com lixo e esperança. Esperança da visita de Papai Noel.
Noite. Escuridão. Frio. Fome. Um barulho. Um possível ho, ho, ho. O menino quase acorda. Mas volta a dormir. Alimenta o cérebro de esperança. Sonhos. Agonia. Gemidos. O grito. A mãe.
Dia. Sol. Natal. Renascimento. O menino com olhos limpos. A visão. Um corpo esticado. Um velho lençol vermelho o envolvendo. Não era Papai Noel. Sua mãe experimentava do sono eterno.
O fim. O cachorro. O corpo. O abraço. O pisca-pisca queimado. O menino. O medo. O coração queimado. O futuro também queimado.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Livre. Lua. Leve


Em um desses fins de tarde, “a boca da noite” como costumam chamar, nos quais o alaranjado do sol fervente dá lugar ao azul frio e escuro da noite eu sentava em minha calçada na cadeira mais traiçoeira de todas – acredite: quando ela quer ser má ela consegue. Outro dia minha tia subiu nela para limpar uma prateleira e adivinha o que aconteceu? Isso mesmo, a cadeira amoleceu as pernas, bombeou e quase derrubou ela. Mas a crônica de hoje não é sobre as maldades frias da cadeira vermelha. Longe disso! Isso pode ficar para a próxima. Ah, que fique logo bem claro: ela não tentou nada comigo! Gosto das coisas explicadas, principalmente para o caso de a cadeira estar, nesse momento, esmerilhando concentrada em minhas palavras.
Então, estava nesse cenário pitoresco quando olhei para o céu e além dos pontinhos cor de ouro que surgiam incontrolavelmente rápido a vi, a Lua. Redonda, grande e de um branco transparente acinzentado. Ela estava linda. Uma graça. Fechei e coloquei Clarice no colo para ficar apreciando a Lua. Nesse exato momento, o relógio marcou dezoito horas, o padre rezou a “Ave Maria”, a vizinha trouxe uma cadeira, juntou-se a mim na calçada e a minha tia chegou. Pronto! Foi só ela me achar admirando nosso satélite natural para começar a falar que eu estava apaixonado.
Ouvi aquilo e apenas sorri. Mas meu cérebro trabalhava: Quem inventou essa história de que só observa a Lua quem está apaixonado? Por isso, agora lhe pergunto o mesmo, caro leitor. Quero saber sua opinião sobre isso. Você acha que isto está certo? Olha, nem se esquiva que de mim você não escapa. Quero ouvi-lo! Mas para facilitar as coisas para você irei continuar escrevendo e vou contar o que penso disso.
É o seguinte: primeira lei da vivência humana: se Deus te deu um par de olhos, foi para olhar T. U. D. O! (Juro que não é propaganda de meu livro, mas se você ainda não leu, basta procurar a opção no menu para ser direcionado até ele) Olhar qualquer coisa a qualquer momento. Os olhos servem para apreciar as coisas que não podem ser tocadas por nenhuma outra parte de nosso corpo. Os olhos desejam, satisfazem-se, denunciam, observam, amam, comem... Sendo assim, eu, você, tu, ele, nós, vós, eles podemos observar o que quisermos, o que bem entendermos. Olhar tal coisa não significa tal coisa. Só você sabe o significado de seus olhares. Portanto, não venha com essa de que se olhar para a Lua, está apaixonado.
Dito isso, acrescento outra coisinha: por que a Lua tem de ser sinônimo de amor, romantismo, namoro? Só por que os casais resolvem se amar durante a noite e usam seus olhos para admirar esse astro não significa que ele seja símbolo do amor. A Lua é linda e independente! Quem pensa que ela morre de amores pelo Sol e sofre por não poder estar perto dele se engana. Ela vive é solteira curtindo a noite com suas inúmeras amigas douradas e pegando o maior número possível de meteoros. Ela só quer saber de iluminar, sorrir, espalhar luz e alegria. Amor? Amor não ilumina nada. Depois de um tempo de luz intensa a escuridão chega para todos. Por isso, a Lua quer saber de amar os momentos. Muda a cada fase. O tempo nunca está ruim para ela. Se está cheia de tudo, vira nova. Muda para o novo. Se está minguante, cresce que é uma beleza. Sofrimento não dura muito para ela. Portanto, quero aqui desconsertar esse pensamento, pois minha amiga Lua não sugere uma figura romântica abobada.
Pois é, quando alguém me vir olhando esse astro inigualável estarei apreciando sua beleza e a singularidade do momento. Para penar no amor leio meus amigos do Romantismo.
E você, concorda ou discorda? A que conclusão chegou?